terça-feira, 15 de abril de 2014

Super ciclone extratropical no Atlântico

     Ciclones extratropicais são fenômenos comuns, mas alguns chamam a atenção com relação a sua intensidade. A formação de um intenso ciclone extratropical, que se originou como uma baixa térmica no Paraguai e atravessou o Rio Grande do Sul em direção ao oceano Atlântico, resultou em ventos fortes em diversas regiões do Cone Sul, que provocaram estragos em muitos pontos do continente, e até mortes causadas por fenômenos associados ao processo de ciclogênese.

     O sistema começou a se formar quando um outro ciclone ainda atuava na Argentina. Na figura 1 obtida no Ogimet podemos ver as temperaturas no Cone Sul no dia 08/04 às 12 UTC (9:00 no horário de Brasília). O forte aquecimento no Paraguai e norte da Argentina resultou na expansão do ar e diminuição da pressão atmosférica, formando a denominada “baixa quente” (figura 2).

     Percebe-se também pela figura 1 que há um gradiente de temperatura significativo no continente com temperaturas abaixo dos 15°C no centro da Argentina, fator importante na formação do ciclone. Enquanto as baixas térmicas que se formam no continente e no oceano são “alimentadas” pelas altas temperaturas do solo ou da água, o “combustível” dos ciclones extratropicais é o gradiente de temperatura entre as massas de ar vizinhas, de forma que o ciclone atua numa tentativa de atingir o equilíbrio térmico.  

Figura 1. Temperaturas na metade sul do continente às 12 UTC do dia 8 de Abril. 

Nota-se que faz calor no Paraguai enquanto as temperaturas no centro da Argentina estão bem mais baixas.

Figura 2. Pressão atmosférica no dia 08 de Abril ás 12 UTC.

Devido a instabilidade remanescente do sistema frontal que atuou no sul do Brasil, Uruguai, Paraguai e região na sexta-feira(11/04), houve um aprofundamento de um sistema de baixa pressão sobre o Paraguai. Na mesma região já atuava um bloqueio atmosférico que ajudou no aprofundamento do sistema e assim, intensificando-o e ainda forçando-o a se deslocar para sul/sudeste da América do Sul durante o final de semana. O evento pode ser classificado como um "super ciclone extratropical", com números que chamam a atenção. O ciclone teve seu pico de intensidade na manhã do dia 13/04, com pressão atmosférica mínima em seu centro de 963 hPa, tendo uma queda de pressão entre as 00Z do dia 12/04 e as 00Z do dia 13/04, período de 24 horas, de 32 hPa (de 1002 para 970 hPa), e em 30 horas de 39 hPa. Alguns modelos de previsão chegaram a indicar pressão atmosférica de 955 hPa no centro do ciclone. Os ventos sobre o oceano alcançaram 130 km/h, medidos pelo QuikAscat (Advanced Scatterometer - sensor que mede ventos sobre o oceano), o que provocou grande agitação marítima. Ainda, o ramo frio do sistema produziu uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera (JBN), gerando intenso cisalhamento vertical do vento sobre o RS, o que gerou uma onda de tornados e tempestades severas sobre o norte do Estado e Paraguai. A rápida queda de pressão, com rápido aprofundamento, fez com que o ar quente e seco ficasse aprisionado no núcleo do ciclone extratropical em baixos níveis, onde na imagem de temperatura de brilho do GOES-13, pode-se observar seu centro com -15ºC, enquanto que ao redor fazia -30ºC, possibilitando até mesmo formação de um pequeno olho nas imagens do dia 13/04 pela manhã, padrão típico de ciclones explosivos. Abaixo estão as belas imagens de satélite proporcionadas por este sistema, e também imagens de circulação de ventos, cartas e velocidade do vento sobre o oceano.




Figura 3. Imagem do satélite GOES-13 no canal WV Realce 1 do dia 13/04/14 ás 20:30 UTC.

Figura 4. Imagem do satélite GOES do dia 13/04/14 ás 18:00 UTC no canal Visível.

Figura 5. Imagem da Temperatura de Brilho do satélite GOES-13 ás 12:00 UTC do dia 13/04/14.

Figura 6. Velocidade do vento.

Na figura acima, observa-se o vento proveniente do ciclone em alto mar alcançando 118 km/h no dia 13/04/14 ás 06 UTC. (Disponível em: http://earth.nullschool.net/)

Figura 7. Animação do campo de pressão a nível do mar do dia 11/04/14 as 12:00 horas local até o dia 14/04/14 as 00:00 horas local.

A figura acima mostra o avanço e desenvolvimento do ciclone, sendo que as linhas desta figura representam a pressão ao nível do mar. O valor minimo de pressão foi alcançado no dia 13/04 as 06:00 locais, com 963 hPa. No intervalo de tempo desta animação, o núcleo variou entre 1009 hPa e 963 hPa. No período entre as 12:00 locais do dia 11/04 e as 06:00 locais do dia 13/04 o gradiente de pressão foi de incríveis 46 hPa!

A imagem a seguir é baseada no vento térmico. Ela mostra a evolução do ciclone desde o ponto A (início) até o ponto Z (fim). Em seu inicio, ele era do tipo profundo com núcleo frio (fase azul). Esse tipo de ciclone é denominado Ciclone Frontal - Extratropical. Conforme o seu avanço, a pressão atmosférica no núcleo diminuiu e o núcleo se tornou mais quente do que suas bordas, fator tipico de ciclones subtropicais. Entretanto, o sistema em questão é raso (quente somente em superfície) e isto ocorre por consequência da sua abrupta intensificação, que acaba por causar o aprisionamento do ar quente no sistema ciclônico, conhecido como "Warm seclusion".

Figura 8. Desenvolvimento das fases do ciclone. (Disponível em: http://moe.met.fsu.edu/cyclonephase/).

Figura 9. Carta de superfície do CPTEC do dia 13/04 ás 12Z.

Na carta de superfície acima percebe-se o ciclone no Atlântico, com núcleo de 968 hPa, entrando já em oclusão (fase final). Outro fator interessante de se observar é a incursão de ar frio e o avanço do ramo frio do sistema frontal pelo continente.

Figura 10. Animação das imagens do satélite GOES do canal infravermelho.

A animação acima mostra o desenvolvimento e o avanço do ciclone. Percebe-se claramente também a incursão de ar frio no continente e o avanço do sistema frontal.

Figura 11. Animação das imagens de satélite do GOES-13 no canal da Temperatura de Brilho.

A animação acima refere-se a evolução de uma onda frontal em relação ao tempo. Pode-se observar através disto a formação do ciclone frontal citado anteriormente e a movimentação de seus ramos frontais (quente e frio). Devido ao aprofundamento e queda de pressão muito rápida do ciclone(35hPa em 24 horas), característica de ciclogênese explosiva, o setor quente da onda frontal é aprisionado no centro do ciclone extratropical, tendo assim -10ºC em seu centro(em superfície), enquanto que nas áreas adjacentes a temperatura ficou por volta dos -30ºC.

Logo, com as condições atmosféricas favoráveis a formação de tempestades no Cone Sul, não é de se espantar com a quantidade de eventos severos ocorridos. No Paraguai foi registrada a ocorrência de um tornado, na cidade de Santa Rita na tarde de sexta feira (11/04). Segue uma foto publicada pelo Correio do Lago (Disponível em: http://www.correiodolago.com.br/noticias.php?id=685598) deste fenômeno.

Figura 12. Tornado em Santa Rita no Paraguai.

No norte do estado do Rio Grande do Sul, Tapejara sofreu com ventos intensos e chuva forte, segundo matéria disponibilizada no G1 (Disponível em: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2014/04/apos-temporal-tapejara-contabiliza-150-casas-totalmente-destruidas.html) cerca de 150 casas foram totalmente destruídas. Há indícios de que Tapejara tenha sido atingida por um tornado, porém nada foi comprovado ainda. Segue abaixo uma foto disponibilizada em um jornal local, onde os rastros de destruição foram registrados.

 Figura 13. Destruição em Tapejara.

Há rumores que o possível tornado que atingiu Tapejara, provocou estragos também na cidade de Erebango.

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Ciente do aprofundamento de um enorme ciclone extratropical sobre o oceano Atlântico, no dia 12 de Abril de 2014 a equipe do grupo Capincho Cumulus deslocou-se até a praia do Laranjal em Pelotas para monitorar e registrar as possíveis rajadas de vento, utilizando uma estação automática portátil WindMate, além de acompanhar o provável recuo da Laguna dos Patos.
Durante o período em que o grupo permaneceu no local (cerca das 08:30 horas até as 17:00 horas), a maior rajada registrada foi de 62 km/h por volta das 09:50 horas. A média do vento ficou na casa dos 40 km/h, tendo como consequência o recuo de 30 cm da Laguna dos Patos.
Seguem abaixo, algumas fotos da caçada da equipe.




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Juntamente ao ciclone, formou-se um centro de alta pressão junto a Cordilheira dos Andes, formando assim um corredor de vento sul desde a Patagônia, que acabou por empurrar uma massa de ar polar que chegou a diminuir as temperaturas no Acre. Inclusive, na Argentina houve registros de temperaturas negativas que acabaram por provocar geadas na região. Confira na Fig. 14 abaixo, as mínimas registradas entre os dias 13 e 15 de Abril. Os dados foram obtidos por estações automáticas do INMET, com exceção daqueles marcados por asteriscos. 







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