quinta-feira, 3 de julho de 2014

Região Sul sofre com grandes acumulados de precipitação e ventos fortes!

   Nos últimos dias, os valores de precipitação no norte do Rio Grande do Sul e em Santa Catarina foram elevados. Na estação convencional do INMET localizada em Iraí o acumulado entre os dias 23 e 30 de junho ficou em 389,3 mm. Em SC choveu 285,2 mm em Campos Novos e 449,9 mm em Chapecó. Os acumulados em outras cidades do RS e do Paraguai podem ser vistos na tabela 1. 

   O resultado de toda essa chuva foi catastrófico: diversas cidades parcialmente submersas, sem luz e/ou "ilhadas", milhares de pessoas desalojadas, com vários trechos de rodovias bloqueadas. Segundo notícia  divulgada pela Defesa Civil nesta quinta feira, 42 municipios decretaram situação de emergência e 2 de calamidade pública. O número de pessoas atingidas é impressionante, cerca de 16.373 ficaram desalojadas e 5.191 ficaram desabrigadas.


 Tabela 1 - Dados de precipitação  do RS e Paraguai entre os dias 23 e 30 de junho disponíveis no Ogimet..

   A chuva começou no dia 23/06 devido à aproximação de uma frente fria associada a um ciclone extratropical a leste da Argentina. Na figura 1 vê-se um sistema convectivo com temperatura do topo das nuvens de -70°C entre a província de Misiones e o sudeste do Paraguai.
   Na figura 2 nota-se que o ciclone em oclusão com núcleo de 1000 hPa e a alta pós-frontal não são intensos o bastante para impulsionar o ar frio em direção ao interior do Brasil devido a atuação de um bloqueio atmosférico (figura 4) em médios níveis da atmosfera (500 hPa). Com isto a frente fica estacionária sobre a metade norte do estado.

Figura 1 - Imagem de satélite do canal infravermelho 

Figura 2 - Carta de superfície do dia 25/06 às 00 UTC.

Figura 3 - Imagem do nível de 500 hPa do dia 25 de Junho de 2014 às 00 UTC.

   Nota-se na figura acima a presença de uma ampla região com circulação anticiclônica (ventos no sentido anti-horário), mais conhecida como zona de alta pressão. Esta por sua vez impede o avanço do sistema frontal para o norte, o que resulta no estacionamento da frente sobre o RS.
Figura 4 - Divergência em 300 hPa (~ 9 km de altitude) do dia 27/06 às 00 UTC.

    Na figura 4 nota-se uma intensa região de divergência (em azul) na alta troposfera; isto implica em convergência em superfície, ou seja, ascensão do ar. Na figura 5 observa-se que a umidade do ar estava muito elevada, assim, a atmosfera apresentava todos os fatores favoráveis à formação de nuvens com grande desenvolvimento vertical propícias a intensas precipitações.  


Figura 5 - Umidade Relativa (UR) do ar às 00 UTC do dia 27 de Junho.

Figura 6 - Nível de 250 hPa do dia 27 de Junho às 00 UTC.

   Na figura 6 é possível ver a presença de um cavado, que por sua vez é contornado pelos jatos subtropical (JST) e polar norte (JPN). Nota-se uma ampla região de divergência na região Sul assim como na figura 3. Esta configuração favoreceu a perda de massa a leste do cavado e consequentemente a queda da pressão, o que deu início a um evento de ciclogênese.

   Assim, um ciclone extratropical formou-se na costa do RS e SC, causando precipitação intensa e rajadas de vento no RS. tais rajadas atingiram impressionantes 104 km/h em Rio Grande segundo a MetSul. Em Pelotas, segundo  dados do CPPMET (Centro de Pesquisas e Previsão Meteorológica) as rajadas chegaram a 94,3 km/h. A queda da temperatura na região serrana dos estados do RS e SC foi considerável.

   Este processo acarretou na formação de uma tempestade do tipo bow echo no litoral de SC (figura 7). O termo bow echo é utilizado para classificar uma tempestade severa em forma de arco (bow). Estes sistemas são caracterizados pela ocorrência de granizo, rajadas de vento e até mesmo tornados.

Figura 7 - Imagem do radar do Morro da Igreja em SC ás 02:55 hrs UTC do dia 28 de Junho.



Figura 8 - Animação das imagens de satélite no canal realçado do dia 23 ao dia 30 de Junho de 2014.

   Na animação acima observa-se a formação e desenvolvimento do sistema que provocou os grandes acumulados de precipitação. Na figura abaixo está o acumulado de precipitação entre as 00 UTC do dia 23 de Junho e as 00 UTC do dia 03 de Julho de 2014 segundo dados do TRMM (Tropical Rainfall Measuring Mission). Nota-se que as regiões mais ao norte do RS, oeste e centro de SC  registraram uma média de precipitação entre 1 e 2 mm por hora. No total acumulado deste período, os valores chegaram a aproximadamente 450 mm. 

Figura 9 - Acumulados de precipitação das 00 UTC do dia 23 de Junho às 00 UTC do dia 03 de Julho de 2014.

   O avanço do sistema frontal pelo continente sul-americano conseguiu atingir latitudes baixas, como mostra a carta sinótica disponibilizada pelo CPTEC das 00 UTC do dia 30 de Junho de 2014 (figura 10).


Figura 10 - Carta de superfície das 00 UTC do dia 30 de Junho de 2014.

   O sistema ficou estacionário em grande parte do continente. A forte advecção de ar frio deu origem ao fenômeno de friagem na região Amazônica. Segue abaixo as temperaturas minimas registradas pelo INMET no dia 29 e 30 de Junho de 2014.

29/06/2014
Epitaciolândia (AC): 13,5°C  
Feijó (AC): 15,5°C
Boca do Acre (AC): 15,1°C
Eirunepé (AM): 17,6°C

30/06/2014
Epitaciolândia (AC): 12°C
Feijó (AC): 15,1°C
Boca do Acre (AC): 15,6°C
Eirunepé (AM): 17,4°C

Atenciosamente, equipe Capincho Cumulus